Reconstrução Digital: Como Tribunais Podem Virar o Jogo na Era das Redes Sociais

Entrevista Expressa: Mike Nelson compartilha estratégias eficazes para recuperar a reputação de instituições públicas enfrentando crises de imagem nas redes sociais

Tema: Recuperação de Reputação Digital e Comunicação de Crises no Contexto Judiciário

 

Repórter: Mike, como especialista em mídias digitais, você tem observado a crescente complexidade da gestão de reputação online de instituições, especialmente quando se trata de órgãos públicos. Como a internet, com seu poder de amplificar narrativas, tem impactado a imagem de tribunais e outras instituições públicas?

Mike Nelson: A internet tem uma capacidade única de amplificar tanto as falhas quanto os acertos de instituições públicas, de forma quase instantânea. Ao mesmo tempo em que proporciona uma plataforma para transparência, ela também se torna um campo de batalha digital onde críticas podem se espalhar rapidamente. O poder das redes sociais e dos algoritmos em priorizar conteúdo polarizante, como ódio ou escândalos, gera uma visibilidade muito maior do que teriam em tempos passados, onde a comunicação era muito mais controlada.

 

2. A Internet Não Esquece

Repórter: O que você pensa sobre o "efeito Streisand" e o fenômeno dos memes na internet? Como esses elementos, que frequentemente começam como falhas ou erros, podem rapidamente se transformar em símbolos culturais difíceis de apagar?

Mike Nelson: O "efeito Streisand" é um excelente exemplo de como tentar ocultar ou manipular um erro pode amplificar o escândalo de maneira ainda mais agressiva. Quando algo é tentado apagar ou censurado, a internet, com sua natureza curiosa e irreverente, só amplifica a situação. No caso dos tribunais, como o que vimos com o TJBA em 2022, as tentativas de processar críticos geraram ainda mais atenção para a questão da censura judicial. Isso é reforçado ainda mais por memes e piadas que se tornam símbolos permanentes na cultura digital. Esses memes fazem com que os erros sejam "eternizados", como a história do juiz com jaleco dourado no TJMT, que virou uma piada que nunca será esquecida.

 

3. A Crise de Credibilidade e Seus Fluxos

Repórter: Existem dois fluxos importantes que alimentam a crise de credibilidade: a realidade institucional e a narrativa digital. Como a proliferação de algoritmos de ódio, como os que encontramos no Twitter e TikTok, afeta ainda mais a reputação de tribunais e outras instituições públicas?

Mike Nelson: As plataformas digitais, como o Twitter e o TikTok, são alimentadas por algoritmos que priorizam conteúdo polarizante e emocional. Isso cria um terreno fértil para que as crises se intensifiquem rapidamente. Um simples vídeo de um servidor de tribunal reclamando da superlotação pode se tornar viral, enquanto algo mais institucional, como a promoção da "modernização", mal consegue visibilidade. As pessoas estão mais propensas a consumir conteúdo que gere indignação ou que fortaleça suas crenças existentes, o que cria uma narrativa que, muitas vezes, sobrepõe qualquer esforço de recuperação de imagem.

 

Ainda sobre o tema anterior: Na sua opinião, como os influenciadores do direito, como canais de YouTube e especialistas nas redes sociais, contribuem para manter um caso vivo por anos?

Mike Nelson: Os influenciadores digitais têm uma enorme capacidade de perpetuar casos, e sua autoridade sobre o tema os torna ainda mais eficazes na manutenção dessas narrativas. Eles criam uma espécie de "ecossistema digital" onde a história é constantemente recontada e, muitas vezes, distorcida. A longo prazo, isso afeta a percepção pública, fazendo com que casos negativos permaneçam vivos por muito mais tempo do que o necessário.

 

4. Estratégias para "Virar o Jogo" Online

Repórter: Muitos tribunais estão tentando virar o jogo com ações de comunicação. Como você vê a transparência radical, como a criação de dashboards públicos, como uma estratégia viável para reconstruir a confiança da população?

Mike Nelson: A transparência radical é fundamental. A criação de dashboards públicos pode ser uma ferramenta poderosa, pois permite que a população acompanhe em tempo real o desempenho do tribunal. O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), por exemplo, foi um exemplo de como uma abordagem transparente pode gerar resultados positivos, com uma redução de críticas de 40%. Isso mostra que, ao fornecer dados claros e acessíveis sobre o trabalho da instituição, a desconfiança diminui e a imagem começa a ser reconstruída. No entanto, para que isso tenha efeito, é necessário que as mudanças sejam reais e mensuráveis, e não apenas uma fachada.

 

5. A Comunicação Humanizada nas Redes

Repórter: A humanização da comunicação, sem recorrer à retórica corporativa, é uma tendência crescente. Como vídeos curtos mostrando mudanças reais, como a implementação de IA na tomada de decisões, podem ajudar a reconstruir a imagem de uma instituição?

Mike Nelson: Mostrar o lado humano das mudanças é essencial. Vídeos curtos, autênticos e transparentes sobre como a tecnologia, como a IA, está sendo usada para melhorar a tomada de decisões podem ter um impacto profundo. Ao mostrar um juiz explicando como as decisões agora são auditáveis, você oferece uma imagem mais próxima da realidade e mais tangível para o público. Além disso, envolver servidores que estão diretamente impactados pelas mudanças, compartilhando suas histórias e melhorias, cria uma conexão emocional com a audiência e torna o processo mais humano e acessível.

 

6. Estratégias Digitais de SEO de Reputação

Repórter: O uso de SEO para controlar a narrativa é uma estratégia poderosa. Qual sua opinião sobre a criação de conteúdo massivo, como artigos, vídeos e podcasts, para dominar resultados de busca e garantir que a verdade seja a mais encontrada nas pesquisas sobre um tribunal ou instituição?

Mike Nelson: O SEO de reputação é uma técnica imprescindível em um cenário onde as buscas online são muitas vezes a principal forma de formar opinião. Se um tribunal ou uma instituição tiver uma estratégia de SEO bem definida, onde conteúdos positivos, como "Como o Tribunal X puniu 20 magistrados corruptos em 2024", dominam os resultados, isso pode virar o jogo. A criação de artigos e vídeos sobre os esforços da instituição para melhorar e ser transparente pode ajudar a enterrar os conteúdos negativos, além de garantir que a narrativa correta seja disseminada.

 

7. O Caso Real: A (Difícil) Recuperação do TJES

Repórter: O TJES tentou utilizar estratégias de comunicação digital para se recuperar após ser considerado um dos piores tribunais do Brasil. Qual é sua avaliação sobre as estratégias utilizadas, como a série "TJES Transparente" e a contratação de consultores de comunicação digital?

Mike Nelson: O TJES fez um bom primeiro passo ao investir em uma série como "TJES Transparente", mostrando que estava disposto a mudar. A contratação de consultores externos também foi uma jogada inteligente, pois traz uma visão imparcial sobre as reformas. No entanto, é importante reconhecer que o impacto em longo prazo leva tempo, e a questão da lentidão ainda persiste nas pesquisas. A redução de 22% nas menções negativas é positiva, mas ainda é necessário mais esforço e inovação para realmente reverter a percepção de ineficiência.

 

8. Cronograma Realista de Recuperação

Repórter: Considerando as estratégias mencionadas, você acredita que um cronograma de 3 a 5 anos para reverter percepções enraizadas é realista? Qual seria o principal indicador de sucesso para saber que uma instituição, como um tribunal, está virando o jogo na internet?

Mike Nelson: Sim, é realista, embora desafiador. Reverter percepções enraizadas leva tempo, especialmente quando a narrativa negativa já se espalhou. O principal indicador de sucesso seria a transformação das críticas e memes em algo mais construtivo. Se, após um tempo, os cidadãos começarem a defender a instituição, dizendo "Calma, eles melhoraram", isso seria um sinal de que a mudança está ocorrendo.

 

9. Concluíndo

Repórter final: Para finalizar, qual conselho você daria para instituições públicas que estão lidando com crises de reputação? Como elas podem garantir que, na era digital, não basta apenas fazer o certo, mas provar, de forma constante, que estão fazendo o certo?

Mike Nelson: Meu conselho seria: seja consistente e transparente. A internet exige que as instituições provem o tempo todo que estão fazendo o certo, e isso só acontece com mudanças reais. As ações precisam ser audíveis, visíveis e mensuráveis. Não adianta apenas lançar um comunicado de imprensa ou tentar esconder os erros. É necessário que as reformas e mudanças sejam documentadas, e que se crie um diálogo constante com o público, mesmo que seja para admitir falhas. No final, a credibilidade se reconstrói com paciência, dados concretos e um trabalho árduo e consistente ao longo do tempo.